1 de fevereiro de 2008

Alice...

"Alice saiu de casa, depois de mais um jantar em família... deixou a cozinha arrumada, o cão jantado e a loiça na máquina. Tudo estava perfeito! Saiu com a sensação de que nada lhe apetecia... apetecia estar parada, estagnar, ficar... automaticamente (como, aliás, se tinham tornado grande parte dos seus gestos...) abriu e fechou a porta de casa, abriu e fechou a porta do carro e seguiu... escolheu do CD a sua música preferida e seguiu... o caminho não era longo, mas pareceu-lhe uma eternidade...
chegou, ao fim de 5 minutos de viagem... estacionou o carro e seguiu, mais uma vez... um pé à frente do outro, andando, andando, andando... olhou para a imensidão de prédios e não conseguiu adivinhar qual era aquele para onde devia, agora, seguir... telefonou ao seu melhor-amigo-de-sempre, que desceu, para a vir buscar... sem grande sentido, seguiu-o... 1, 2, 3, 4, PAROU... 4º andar, apartamento SE (lembra-se, vagamente, de que inventou explicação para aquelas letras... mas só se lembra vagamente...). Entrou, disse boa noite, foi apresentada ao amigo da guitarra e tirou o casaco e a mala, e pousou ainda os livros de poesia que tinha trazido (nunca se adivinha aquilo que apetece ler...). Deteve-se a admirar aquela sala que havia apenas visitado uma vez: os instrumentos todos dispostos... a bateria do lado esquerdo, o piano ao fundo... e umas poucas de guitarras e baixos e amplificadores espalhados pela sala... Deteve-se, ainda, a ouvir o som da guitarra... o grande amigo do seu melhor-amigo-de-sempre pediu-lhe que cantasse... "tu sabes estas..." mais uma vez, estacionou ao pé do piano e cantou... uma agora, outra depois e aina outra... "tu cantas bem!", ouviu alguém dizer...
param, depois, as músicas e as cantorias, porque o relógio não engana e o vizinho do 3º andar não perdoa! Alice senta-se no sofá da casa do amigo do seu melhor-amigo-de-sempre e sente algo pela primeira vez... frio... descalça as sapatilhas e vai buscar a manta ao armário... enrosca-se nela e fuma um cigarro... chegam outros para lhe fazer companhia: o seu melhor-amigo-de-sempre, o amigo do seu seu melhor-amigo-de-sempre e o mais recente amigo do coração do seu melhor-amigo-de-sempre... Alice começou a sentir-se "bem"... aconchegada, mimada, cuidada... "pousa a cabeça no meu ombro, que ele pousa a cabeça nas tuas costas" (comboinhos de carinho...). Alice estava cansada, com sono, mas tão quentinha que tudo lhe parecia "perfeito"... soube-lhe bem o aconchego de dois dedos de conversa parva, da mantinha, dos miminhos... até dos idiotas do filme que ainda tiveram coragem de ver...
hoje de manhã acorda mais cedo que o habitual, veste-se, toma o pequeno-almoço e segue... abre e fecha a porta de casa, abre e fecha a porta do carro... segue... 5 minutos... chega ao estacionamento... estaciona... chega à repartição...
pelo caminho olhou para o céu e viu uma gaivota cruzar os céus... Alice nunca gostou de gaivotas... seres irritantes, sempre considerou! hoje lembrou-se da "sua" gaivota que vai voar para Londres... e pensou no presente que lhe tinha pedido: o big ben dentro de uma caixinha. Será que ele vai trazer? e pensa que o sol está, hoje, como ela: cansado, com sono e um pouco preguiçoso...
com um bocadinho menos de tempestade dentro dela, Alice canta só para si o "Summertime" da noite anterior..."

(Alice in ...)

Sem comentários: